sexta-feira, 18 de março de 2011

Como anda sua forma de ver o mundo? Veja a análise sobre discriminação por Rosana Jatobá.

não queria explicação. eu só queria entender até onde o ser humano pode ir com o "pré-conceito" sobre muito do que temos neste mundo. mas, já estou admitindo que o melhor é refletir, e mesmo que só uma pessoa pense igual a mim, já podemos fazer a diferença.
desejo que você, em doses homeopáticas faça a diferença e trate o seu semelhante como gostaria de ser tratado. sempre!
Beijocas
O INSUSTENTÁVEL PRECONCEITO DO SER! 
Em Debate 
Por Rosana Jatobá

Era o admirável mundo novo! Recém-chegada de Salvador vinha a convite de uma emissora de TV, para a qual já trabalhava como repórter. Solícitos, os colegas da redação paulistana se empenhavam em promover e indicar os melhores programas de lazer e cultura, onde eu abastecia a alma de prazer e o intelecto de novos conhecimentos. 
Era o admirável mundo civilizado! Mentes abertas com alto nível de educação formal. No entanto, logo percebi o ruído no discurso: 
- Recomendo um passeio pelo nosso "Central Park", disse um repórter. Mas evite ir ao Ibirapuera nos domingos, porque é uma baianada só! 
- Então estarei em casa, repliquei ironicamente. 
- Ai, desculpa, não quis te ofender. É força de expressão. Tô falando de um tipo de gente. 
- A gente que ajudou a construir as ruas e pontes, e a levantar os prédios da capital paulista? 
- Sim, quer dizer, não! Me refiro às pessoas mal-educadas, que falam alto e fazem "farofa" no parque. 
- Desculpe, mas outro dia vi um paulistano que, silenciosamente, abriu a janela do carro e atirou uma caixa de sapatos. 
- Não me leve a mal, não tenho preconceitos contra os baianos. Aliás, adoro a sua terra, seu jeito de falar... 
De fato, percebo que não existe a intenção de magoar. São palavras ou expressões que, de tão arraigadas, passam despercebidas, mas carregam o flagelo do preconceito. Preconceito velado, o que é pior, porque não mostra a cara, não se assume como tal. Difícil combater um inimigo disfarçado. 
Descobri que no Rio de Janeiro, a pecha recai sobre os "Paraíba", que, aliás, podem ser qualquer nordestino. Com ou sem a "cabeça chata", outra denominação usada no Sudeste para quem nasce no Nordeste. 
Na Bahia, a herança escravocrata até hoje reproduz gestos e palavras que segregam. Já testemunhei pessoas esfregando o dedo indicador no braço, para se referir a um negro, como se a cor do sujeito explicasse uma atitude censurável. 
Numa das conversas que tive com a jornalista Miriam Leitão, ela comentava: 
- O Brasil gosta de se imaginar como uma democracia racial, mas isso é uma ilusão. Nós temos uma marcha de carnaval, feita há 40 anos, cantada até hoje. E ela é terrível. Os brancos nunca pensam no que estão cantando. A letra diz o seguinte: 
 “O teu cabelo não nega, mulata 
Porque és mulata na cor 
Mas como a cor não pega, mulata 
Mulata, quero o teu amor". 
"É ofensivo", diz Miriam. Como a cor de alguém poderia contaminar como se fosse doença? E as pessoas nunca percebem. 
A expressão "pé na cozinha", para designar a ascendência africana, é a mais comum de todas, e também dita sem o menor constrangimento. É o retorno à mentalidade escravocrata, reproduzindo as mazelas da senzala. 
O cronista Rubem Alves publicou esta semana na Folha de São Paulo um artigo no qual ressalta: 
"Palavras não são inocentes, elas são armas que os poderosos usam para ferir e dominar os fracos. Os brancos norte-americanos inventaram a palavra 'niger' para humilhar os negros. Criaram uma brincadeira que tinha um versinho assim: 
'Eeny, meeny, miny, moe, catch a niger by the toe'...que quer dizer, agarre um crioulo pelo dedão do pé (aqui no Brasil, quando se quer diminuir um negro, usa-se a palavra crioulo). 
Em denúncia a esse uso ofensivo da palavra, os negros cunharam o slogan 'black is beautiful'. Daí surgiu a linguagem politicamente correta. A regra fundamental dessa linguagem é nunca usar uma palavra que humilhe, discrimine ou zombe de alguém". 
Será que na era Obama vão inventar "Pé na Presidência", para se referir aos negros e mulatos americanos de hoje? 
A origem social é outro fator que gera comentários tidos como "inofensivos", mas cruéis. A Nação que deveria se orgulhar de sua mobilidade social é a mesma que o picha o próprio Presidente de torneiro mecânico, semi-analfabeto. Com relação aos empregados domésticos, já cheguei a ouvir: 
- A minha "criadagem" não entra pelo elevador social! 
E a complacência com relação aos chamamentos, insultos, por vezes humilhantes, dirigidos aos homossexuais? Os termos bicha, bichona, frutinha, biba, "viado", maricona, boiola e uma infinidade de apelidos, despertam risadas. Quem se importa com o potencial ofensivo? 
Mulher é rainha no dia oito de março. Quando se atreve a encarar o trânsito, e desagrada o código masculino, ouve frequentemente: 
- Só podia ser mulher! Ei, dona Maria, seu lugar é no tanque! 
Dependendo do tom do cabelo, demonstrações de desinformação ou falta de inteligência, são imediatamente imputadas a um certo tipo feminino: 
- Só podia ser loira! 
Se a forma de administrar o próprio dinheiro é poupar muito e gastar pouco: 
- Só podia ser judeu! 
A mesma superficialidade em abordar as características de um povo se aplica aos árabes. Aqui, todos eles viram turcos. Quem acumula quilos extras é motivo de chacota do tipo: rolha de poço, polpeta, almôndega, baleia ... 
Gosto muito do provérbio bíblico, legado do Cristianismo: "O mal não é o que entra, mas o que sai da boca do homem". 
Invoco também a doutrina da Física Quântica, que confere às palavras o poder de ratificar ou transformar a realidade. São partículas de energia tecendo as teias do comportamento humano. 
A liberdade de escolha e a tolerância das diferenças resumem o Princípio da Igualdade, sem o qual nenhuma sociedade pode ser Sustentável. 
O preconceito nas entrelinhas é perigoso, porque, em doses homeopáticas, reforça os estigmas e aprofunda os abismos entre os cidadãos. Revela a ignorancia e alimenta o monstro da maldade. 
Até que um dia um trabalhador perde o emprego, se torna um alcóolatra, passa a viver nas ruas e amanhece carbonizado: 
- Só podia ser mendigo! 
No outro dia, o motim toma conta da prisão, a polícia invade, mata 111 detentos, e nem a canção do Caetano Veloso é capaz de comover: 
- Só podia ser bandido! 
Somos nós os responsáveis pela construção do ideal de civilidade aqui em São Paulo , no Rio, na Bahia, em qualquer lugar do mundo. É a consciência do valor de cada pessoa que eleva a raça humana e aflora o que temos de melhor para dizer uns aos outros. 

PS: Fui ao Ibirapuera num domingo e encontrei vários conterrâneos... 


Rosana Jatobá 

Rosana Jatobá, nascida em Campo Formoso , na Bahia, é jornalista, graduada em Direito e Jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, e mestranda em gestão e tecnologias ambientais da Universidade de São Paulo. Também apresenta a Previsão do Tempo no Jornal Nacional, da Rede Globo. 

Esse texto é parte da série de crônicas sobre Sustentabilidade publicada na CBN

sexta-feira, 11 de março de 2011

Textos que nos levam a refletir.

Nem tudo está perdido!
Muitos que me cercam compartilham da mesma concepção de mundo. E, ao nos comunicarmos pelo mundo virtual, recebo mensagens que me levam a refletir.
Hoje, ao me deparar com a devastação no Japão, comecei a me questionar o que de fato vale a pena. Como sempre, essa meditação é uma constante.Só que, não basta meditar. É preciso mudar.
Então, ao abrir meu e-mail, li uma mensagem que serve para pensar como estamos distantes uns dos outros. Tenho que mudar o meu modo de vida.

"O TEMPO PASSOU E ME FORMEI EM SOLIDÃO"
José Antônio Oliveira de Resende 
Professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras, Artes e Cultura, da Universidade Federal de São João del-Rei.

Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite.
Ninguém avisava nada, o costume era chegar de pára-quedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.
– Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre.
E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.
– Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável!
A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... Casa singela e acolhedora. A nossa também era assim.
Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha – geralmente uma das filhas
– e dizia:
– Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa.
Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... Tudo sobre a mesa.
Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também.
Pra quê televisão? Pra quê rua? Pra quê droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.... Era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade...
Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa... A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... Até que sumissem no horizonte da noite.
O tempo passou e me formei em solidão. Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail... Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa:
– Vamos marcar uma saída!... – ninguém quer entrar mais.
Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.
Casas trancadas.. Pra quê abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos, do leite...
Que saudade do compadre e da comadre! 


Ainda, em muito do que praticamos lá em casa tenho essa referência. Ao chegar uma visita, e não são todas avisadas, temos o hábito de fazer aquele cafezinho (cuado, hummmmmmmmmm!) com a mesa recheada de guloseimas.
E a conversa flui. Sobre o clima, as famílias e seus problemas, os desabafos, risadas com piadas do cotidiano.Olha, é bom demais. São os pequenos gestos que fazem a diferença.
Temos, em minha família, o hábito de "pedir a benção". Seja onde for! Um bando de marmanjo, pedindo a benção aos mais velhos.Um dia desses tivemos essa atitude compartilhada num restaurante.Rsrsrsrsrsrs...bastava observar quem estava ao redor. Uma mesa enorme, e a cada pessoa ou grupo que chegava, eram diversas bençãos, abraços, beijinhos e espalhafatos deliciosos.
Portanto, mesmo com as casas trancadas ou por que não dizer trancados dentro delas, podemos fazê-la aquecida, sem esquecer do compadre e da comadre. E que venham os amigos e seus agregados.

terça-feira, 8 de março de 2011

Todo dia é dia...

...mas me fez lembrar de primeira da letra COr de rosa choque da Rita Lee
Nas duas faces de Eva
A bela e a fera
Um certo sorriso
De quem nada quer...

Sexo frágil
Não foge à luta
E nem só de cama
Vive a mulher...

Por isso não provoque
É Cor de Rosa Choque
Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!
Não provoque!

Mulher é bicho esquisito
Todo o mês sangra
Um sexto sentido
Maior que a razão

Gata borralheira
Você é princesa
Dondoca é uma espécie
Em extinção...
Por isso não provoque
É Cor de Rosa Choque
Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!

(e ainda é cor de rosa choque)