domingo, 27 de fevereiro de 2011

Ponto de vista


Eu já falei que vou parar de ver noticiários, mas não consigo. Afinal, é importante se inteirar da situação.
Só que revolta!
Uns dias atrás, me deparei com um secretário de alguma coisa em Florianópolis, se referindo a homenagem da escola de samba Grande Rio (afetada por um incêndio, acho que na semana passada), “A cidade está de luto”.
De luto???????????????
E aí, continuando a reportagem, as pessoas comentam com pesar a perda de alegorias de carnaval!!!
Sim, claro, é um dos espetáculos mais belos no mundo. Motivo de orgulho para muitos – hoje o que mais se vê é gente nua e muito estrangeiro aplaudindo, acreditando realmente que aqui é o paraíso do sexo, se não fosse assim, porque muitos são encontrados nas cidades litorâneas a procura da tal ‘diversão’? – mas convenhamos, o que realmente tem que nos deixar de luto neste mundo? O próprio Rio está de luto há muito tempo, pois além das catástrofes que até agora não foram sanadas – falo isso, sem me referir só as ocorrências deste ano de 2011 – , a cidade se encontra entregue, a mercê da marginalidade, que só se encontra detida, devido ao dinheiro esperado com a Copa do Mundo em 2014. Ou é para engolir que se deve a segurança da comunidade favelada, tão desfavorecida??? Estimo muito as ONG’s que exercem suas atividades acolhendo os desfavorecidos, estando ali de bom grado, em sua maioria, exercendo a cidadania que as autoridades nem procuram saber o real significado.
Luto? Fiquei entalada! E as pessoas advindas do caos devido às chuvas? Minha irmã passou por Nova Friburgo e relatou que é pior do que vemos na tela. Os vitimados do ano de 2010, por exemplo, tem problemas até agora sem moradia e dependendo de aluguéis prometidos pela prefeitura que não pagam aos locadores de imediato. Como bons negociantes, não podem viver de promessa, imagina sendo essa dos nossos governantes? E essa nova leva de desabrigados? O empenho é da comunidade, o povo brasileiro é solidário e fica condoído com a situação dos outros, mas quando a mídia ajuda, só focam aqueles repetidos a exaustão (por uma quinzena, mais ou menos), para manter a audiência e depois tudo fica bem escondido, esquecido. Sequer lembram dos que vivem permanentemente em situação de miséria devido a um problema existente desde que me entendo por gente. Falo dos nossos irmãos sertanejos. A nível de Sergipe, são 75.000 pessoas que estão passando fome devido ao solo seco e que não podem migrar para outros lugares. Vão viver de quê? E sem esquecer dos nossos líderes, não existe um projeto que chegue a sua execução para amenizar a situação destas pessoas. Claro, a população sertaneja é pequena, não faz cócegas no resultado das eleições.
Poxa! Queria gritar e ter retorno com uma atitude que saísse de nós, pessoas comuns que lutam pela sobrevivência no caos, dia-a-dia. É muito descaso.
Daí eu posso dizer que meu coração está de luto.Ver o que se passa, e exercer acima da cidadania o nosso papel de cristão, sendo despertado apenas com o que sai nos noticiários. Luto pelo egoísmo que floresce em todos os seres humanos, estamos olhando apenas para o nosso próprio umbigo, mesmo que o futuro diga que é necessário dar as mãos para lutar pela sobrevivência. Entretanto, o luto se torna uma coisa banal, pois as pessoas não se entristecem com um desabrigado que perdeu tudo, principalmente seus entes queridos ou aqueles que não estão próximos dos nossos olhos e vêem tudo ao seu redor morrer pela falta de água. E sim, pelo glamour de paetês, nas alegorias queimadas, que podem sim serem refeitas. E a vida quando se vai, quem poderá refazê-la?
Esse é apenas mais um capítulo para reflexão sobre nosso dia-a-dia. Mas um dia eu paro de ver os noticiários...

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